Tenho 19 anos. Até então nunca tinha pensado em uma mulher e nunca tinha tido nenhum tipo de relacionamento homossexual, nem mesmo por curiosidade, nem nada. Eu tinha um namorado de um ano e quatro meses na época, que já não estava me fazendo bem e eu já vinha pensando em terminar. Eu me apaixonei por homens durante a minha vida, mas hoje eu olho pra trás e não consigo comparar o que eu estou sentindo por Ela com absolutamente nada do que eu já se senti antes.
Conheci Ela no dia 14 de janeiro desse ano. Eu sei, faz MUITO pouco tempo. Meu namoro estava ruim e ela estava triste porque tinha terminado um relacionamento bem longo há poucos meses e tinha sido um final bem destrutivo, digamos assim. Eu a conheci num aniversário de criança, vou tentar não ser tão detalhista, porque eu lembro de cada detalhe e se eu fosse contar tudo minha história ficaria cansativa demais. Enfim, a conheci através de uma amiga que é homossexual. A primeira vez que eu a vi com essa minha amiga eu fiquei curiosa. Ela simplesmente chamou minha atenção no meio de umas cem pessoas e eu queria saber quem ela era, o que ela tava fazendo ali, será que ela tava ficando com minha amiga? Enfim, me fiz várias perguntas, mas depois deixei isso meio de lado. Depois do aniversário a gente se reuniu para jogar uno e ela tava lá. Foi uma afinidade instantânea. A gente tirava brincadeiras uma com a outra direto, passamos a noite inteira nisso, ela falava que eu atrasava o jogo porque sou muito distraída, enfim, depois desse dia a gente se acabou se vendo muito, no período de um mês... Acho que a gente se encontrava pelo menos umas 4 vezes por semana, eu comecei a me interessar demais e percebia que ela também. Isso nunca tinha acontecido comigo antes, eu tinha namorado e era basicamente isso que me prendia e não me deixava fazer o que eu queria (que já estava escrito na minha testa). Terminei meu namoro dia 5 de fevereiro, dia 6 eu decidi que ia sim ficar com ela e no dia 8 eu fui atrás dela... Foi a coisa mais corajosa que eu já fiz até hoje, porque eu sabia que isso ia ter conseqüências, mas eu queria Ela, fato, ponto. Nunca quis tanto alguém. Eu me tremia inteira, ela percebeu e ficou preocupada, perguntou o que eu tinha e eu disse “tu sabes, eu quero te beijar”. Eu sentia meu próprio coração bater de tão acelerado. Foi um dos beijos mais intensos que eu já dei em alguém. Sabe quando duas pessoas se gostam demais, mas não estão juntas e quando isso finalmente acontece... É como se já tivesse que ter acontecido há muito tempo. Quando eu vi ela pela primeira vez... Bem, eu soube depois de três segundos. Tudo o que aconteceu nos últimos 4 meses só vem confirmando cada vez mais que eu encontrei a “pessoa certa”. E sim, minha pessoa certa não é o que minha mãe sonhou pra mim, mas é TUDO o que eu sempre quis, na verdade, é até mais. Olhando de fora eu acho que 3 meses é muito pouco tempo, mas é que já aconteceu tanta coisa e é um sentimento tão intenso, forte, equilibrado e até mesmo seguro, que parece que faz séculos. Hoje eu me sinto completa.
Como tudo na vida, minha história não é só flores. Em menos de dois meses minha família descobriu. Minha mãe... Sem comentários. Eu fui humilhada, ouvi as piores coisas do mundo da pessoa que deveria me proteger, aceitei tudo o que ela disse, não bati de frente até agora, porque é minha mãe, porque eu tenho respeito apesar de TUDO e porque da mesma maneira que ela não pode impor o que ela pensa pra mim eu também não posso fazer isso. É muito difícil lidar com essa situação: amar uma mulher (no sentido mais amplo que a palavra amor pode ter), ter a família inteira contra isso e te tratando como uma drogada, porque, afinal, você não era assim, são essas influências, é “aquelazinha”, “aquela pequena”, são esses teus falsos amigos que te levaram pra perdição... E entra psicologia, entra complexo de Elektra... Com toda a sinceridade e com todo o respeito também, não acho que Freud explica o que eu estou sentindo. Acredito em Deus, tenho muita fé Nele e em tudo, na vida, tenho sonhos, sou otimista, sempre acredito que as coisas vão dar certo de alguma forma, que se elas estão dando errado agora é uma fase e depois tudo se ajeita, talvez não da melhor maneira para todos, mas eu posso fazer que fique bom pra mim. Agora? O melhor e o pior momento. É como se você tivesse que escolher entre duas coisas que simplesmente não se escolhe. É covardia te pedirem pra escolher entre a tua primeira família e a pessoa que tu queres para construir contigo a tua própria família, a pessoa que tu planejas ter filhos e que quando tu olhas para frente e pensa na tua vida vai tá contigo em todos os momentos. É... Desleal pedir isso. Eu moro com meus pais, eu não tive e ainda não tenho muita escolha, ou eu minto falando que já passou, ou minha vida vira um inferno, porque mesmo mentindo para evitar mais problemas eu não tenho paz e sinto que não vou ter por um bom tempo. Tenho meus “dias de cão” com minha mãe entrando no meu quarto falando que vai se matar, ou quando ela resolve me empurrar para “rapazes bonitinhos”, dá uma vontade de gritar, de explodir, mas enfim, paciência, autocontrole, etc. Eu sei que dói nela tudo isso, que não é o que ela sonhou pra mim e tudo mais... Mas é que eu também não sou forte. Eu entendo tudo o que ela sente, mas ela não parou para entender o que eu sinto e simplesmente apontou o dedo na minha cara e me disse as piores coisas. Eu chorei muito por isso, ainda choro, porque ter que mentir não é fácil, tem horas que parece quase ser insuportável (no sentido não conseguir suportar a mentira mesmo) e eu não gosto, só faço por não ter outra escolha. Eu não minto porque eu quero enganar é que eu não vejo outro jeito. E dói, mas é necessário. Eu não estou com minha namorada hoje porque o que é proibido é mais gostoso, porque... o que é proibido NÃO é mais gostoso. Não quando tu amas alguém e quer estar com essa pessoa o tempo todo, poder falar no telefone a hora que quiser ou simplesmente sair de casa e encontrá-la sem ter que ter um plano pra isso. Minha mãe disse que eu estava no fundo do poço por beijar uma mulher, o que ela não sabe é que essa mulher fez eu me sentir mais longe do poço do que nunca e que minha mãe quase me jogou pro fundo do poço com todo o tipo de chantagem emocional que ela fez. Até que eu cansei dela. E, de todo o meu coração, admito e desabafo que cansar da própria mãe é muito triste. Mas é que eu não tenho mais forças pra ela. Chegou num ponto que é “ou ela ou eu”. E eu me escolhi.
Eu rezo muito. Rezo para Deus me dar paciência, serenidade e tudo mais porque eu sei que ainda tem muita coisa pela frente. Porque a “bomba” pode estourar de novo e minha vida pode ficar bem complicada de novo e eu tenho que ser muito forte pra passar por isso. Rezo para que Ele dê essas mesmas coisas pro meu amor porque eu sei que Ela também precisa disso, e rezo para que Deus tire essa mágoa e essa culpa (que não tem nenhum fundamento) da minha mãe e que ela veja que o amor dela é maior que qualquer PREconceito que a nossa sociedade venha impor. E que ela entenda que isso não é uma questão de falta de princípios e valores, é uma questão de amor, mais que isso, é uma questão de respeito. E que PREconceito sim é uma questão de valores distorcidos. Rezo para que ela consiga me olhar e ver que eu tenho mil qualidades, sou mil coisas antes de ser lésbica. Que ela me olhe sem aquele olhar de desgosto que tanto me machuca e que quem já passou por isso sabe muito bem como é difícil suportar a própria mãe te olhando assim. Se é pra falar de Deus... Ama o próximo como a ti mesmo, respeita as pessoas ao teu redor e simplesmente não julga. Hoje eu estou melhor do que eu estive ontem e amanhã espero estar melhor do que eu estou hoje.
Para quem se encontra em situação parecida: Deus. Vão falar Dele pra você, mas você tem o Deus que você merece e as pessoas ao seu redor também. Nunca se esqueça disso. E fé na vida, porque por mais difícil, longo e escuro que o caminho pareça ser, quando você chegar lá no final, você vai se sentir a pessoa mais feliz do mundo. Você sabe o que você quer e você sabe o que é melhor para você. Não deixe que as outras pessoas confundam você, até porque você vai se sentir confusa pelo fato de ser um novo sentimento. Seja você mesma. Não perca sua identidade. Ame. Se ame também. Seja feliz. Construa o seu caminho e nunca se esqueça que sexualidade não julga caráter de absolutamente ninguém.
E é assim que eu começo a escrever sobre o país das maravilhas.
Alice Carrol
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