quinta-feira, 10 de março de 2011

Independência ou morte?

A dependência econômica acaba com qualquer tipo de relação. Até minha avó com seus 94 anos passou várias noites de sua vida acordada fazendo doces e salgados por encomenda só pra não ter que depender totalmente do meu avô.
Bem, já tem um ano que eu venho pensando nisso. O fato é que eu decidi que vou sair de casa. Ou melhor, eu não decidi, eu simplesmente reconheci que isso deve ser feito, o que é pior. É porque a coisa se descontrolou de maneira tão absurda que eu não consigo mais viver sob o mesmo teto que minha mãe. "Ó que filha ingrata!". Sinceramente, tenho vontade de agredir fisicamente pessoas que tem esse tipo de pensamento em relação a mim, porque são pessoas completamente incapazes de amar o próximo ou de se colocar no lugar dele. Eu não vou dizer aqui que eu amo minha mãe, porque ela já me magoou o suficiente para que eu não consiga mais falar e só Deus sabe como eu fico doente só de pensar nisso ou em como isso foi acontecer.
O que faz a sua mãe ser a melhor mãe do mundo não é o fato dela ter as melhores atitudes, mas o amor que você sente por ela. Mas quando certas coisas acontecem e realmente abalam toda a estrutura desse amor construído e você consegue enxergar todas essas atitudes que antes não eram vistas... As coisas realmente complicam.
Eu me odeio. Não por ser gay. Me odeio por odiar uma pessoa que eu fui criada e programada para sentir exatamente o oposto. Mas me odiar por isso é menos pior do que me sentir culpada pelas atitudes dela e olha que me livrar dessa culpa foi um processo longo, lento e extremamente doloroso. Se eu falar que hoje a única coisa que me faz ter gosto pela vida (além da minha namorada, uns bons amigos e da minha cadela) é o fato de eu ter decidido sair de casa e passar a maior parte do tempo planejando e colocando as coisas em ordem para que isso deixe de ser teoria e se torne prática, eu não estarei mentindo.
Ouvi de alguém que eu não deveria sair de casa e nem seguir esse "caminho", porque gay tem uma vida solitária e é infeliz. E como fica esse argumento se eu disse que o lugar do mundo em que eu me sinto mais infeliz e solitária do que um Irlandês perdido no meio da floresta amazônica é a casa dos meus pais (que eu nem digo mais ser minha)? O que a gente faz quando isso acontece? Quando chega no final do dia e eu entro em crise e choro no ônibus pensando que estou voltando "pra casa"?
It could be easy. It could me happy. And it could be... you.
Cansei... Cansei.
A propósito, moro em Belém do Pará. (Você sabe... =T.)

3 comentários:

  1. Eu sei. E acho que já tivemos essa conversa antes e continuo acreditando que pra você o melhor a fazer é arrumar um canto só seu. Desejo que consiga um emprego legal também.
    Um abraço moça. Estou torcendo por ti.

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  2. Oi Alice. Esta fase de não aceitação da família é bem dificil mesmo. Mas você esta certa quando pensa em si. E se sair de casa já é um processo dificil quando não esta relacionado a nossa orientação sexual, quem dirá quando esta busca pela independencia esta bem atrelada a isso?! Mas desejo de todo o coração que você consiga o seu espaço, sua liberdade, a paz de poder alegrar-se ao voltar para casa (a sua casa). Quanto a se odiar, sei bem como é sentir-se assim. E no fundo, vc não odeia a sua mãe. Apenas esta ferida por ela, pela situação. Feridas costumam doer, sangrar. Mas também cicatrizam. E você verá que a sua cicatrizará. Talvez não da forma que você gostaria, nem num tempo que você desejasse. Mas ela se fecha. A minha se fechou. Boa sorte!
    Força, Paz e Luz em seus caminhos!

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