quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MINHAS MÃES E MEU PAI

Joni acaba de fazer 18 anos. Laser, seu irmão, tem 15. Os dois são filhos do mesmo pai, mas de duas mães, Nic e Jules, respectivamente. E elas formam um casal. Minhas mães e meu pai, que entra em cartaz em 12 de novembro no Brasil e será exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é sobre a frágil relação que se cria entre homem-doador-de-esperma, adolescentes e as duas mulheres quando Laser e Joni decidem conhecer o pai biológico.

A questão do casal gay, Annette Bening (Nic) e Julianne Moore (Jules) em bela performance, é muito bem resolvida. Para elas, para os filhos, para o filme. Não há preconceito nem a discussão sobre preconceito. Elas se amam e acabou, o que é um “adianto” em filmes com essa temática, já que muitos só discutem os problemas da escolha sexual, e não as relações em si. Nic é a médica bem sucedida, que provê o lar, e durona. Jules é mais sentimental, meio perdida na questão profissional, sempre em busca de novos negócios e projetos. Os filhos (Mia Wasikowska, a Alice de Tim Burton, e Josh Hutcherson) parecem seguir os mesmos passos de suas respectivas mães, pelo menos no que diz respeito à educação e à determinação profissional.

Paul, o pai – na pele de um incorrigível sedutor, boa vida e presunçoso Mark Rufallo –, é dono de um restaurante e de uma horta orgânica que abastece a cozinha de seu estabelecimento. Solteiro convicto, não pensa em casar tão cedo. Abre-se aos “novos” filhos, que nem sabia existir. Questionado por Laser por que havia doado esperma, ele diz “porque parecia mais divertido do que doar sangue”. E o filme tem outras ótimas cenas engraçadas. Como a que Jules diz que viraria uma “lésbica inútil de meia-idade”, fazendo humor da sua própria desgraça.

Os atores trabalham muito bem e as cenas de amor são sensíveis e verossímeis, bem dirigidas. O casal Nic e Jules nada difere de casais héteros tradicionais porque a grande questão na película é a complexidade humana, e não a preferência sexual das pessoas. O controle, as falhas, as inseguranças, as desconfianças… É sempre assim, independe do sexo do sujeito. No prolongar da história, o filme dá uma brecada no ritmo, mas nada muito grave. Tem gente que nem irá perceber.

Minhas mães e meu pai foi dirigido por Lisa Cholodenko, que esteve à frente das séries de TV A Sete Palmos (2001) e The L World (2005). O filme ganhou o Festival de Berlim e passará na Mostra nos dias 22, 24, 25 e 26 de outubro e 1º de novembro.

(matéria publicada na coluna MENTE ABERTA da revista ÉPOCA)

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